Olá! Amantes
da literatura,
Saudações
poéticas!
Escrevo
a vocês para tratar de um assunto que impede que pessoas por preconceito de
nome do blog se “ESCAMBODALITERATURA” deixam de acessar esse blog que contém textos
de disciplina riquíssima que é a
literatura, utilizada por várias áreas como o Direito, Pedagogia, História,
Filosofia, Sociologia, dentre outras. Este nome “ESCAMBO” não tem nada a ver
com escravidão ou assunto parecido. Surgiu por volta do século XV (época do
colonialismo europeu) e significa troca.
A troca entre colonizador e colonizado que passou a ser escravizado, a História
comprova isso.
Para
haver troca, pessoal, precisamos de interação. A interação mencionada é entre o texto e o
leitor. Desprezando sempre a figura do autor. O que uma pessoa escreve deixa de
ser de sua propriedade e passa a ser da coletividade.
Quando
criei esse blog, fiz com a intenção de
partilhar textos literários, estruturas poéticas, e não literários, como textos de diversos
assuntos. A intenção é interagir com o público. Manifestar ideias e textos de autores
consagrados.
A
minha intenção e pretensão é fazer com que alguns brasileiros leiam, porque
parte da nossa população não tem o hábito de ler. Quando a leitura de qualidade
deixa de ser colocada em prática,
literaturas estrangeiras sem qualidade vão ganhando destaque e os clássicos da
Literatura vão perdendo espaço na prateleira e cabeceira.
Agora
que todos entenderam realmente o significado do blog, anseio que todos possam refletir
sobre os textos.
Atenciosamente,
Nacompanhiadasletras.
Para refletir
sobre o que foi a escravidão, período dantesco da nossa história. Indico a
leitura do poema: “Navio Negreiro” de Castro Alves.
.
Navio Negreiro
Castro Alves
I
'Stamos em
pleno mar... Doudo no espaço
Brinca o luar
— dourada borboleta;
E as vagas
após ele correm... cansam
Como turba de
infantes inquieta.
'Stamos em
pleno mar... Do firmamento
Os astros
saltam como espumas de ouro...
O mar em
troca acende as ardentias,
—
Constelações do líquido tesouro...
'Stamos em
pleno mar... Dois infinitos
Ali se
estreitam num abraço insano,
Azuis,
dourados, plácidos, sublimes...
Qual dos dous
é o céu? qual o oceano?...
'Stamos em
pleno mar. . . Abrindo as velas
Ao quente
arfar das virações marinhas,
Veleiro
brigue corre à flor dos mares,
Como roçam na
vaga as andorinhas...
Donde vem?
onde vai? Das naus errantes
Quem sabe o
rumo se é tão grande o espaço?
Neste saara
os corcéis o pó levantam,
Galopam,
voam, mas não deixam traço.
Bem feliz
quem ali pode nest'hora
Sentir deste
painel a majestade!
Embaixo — o
mar em cima — o firmamento...
E no mar e no
céu — a imensidade!
Oh! que doce
harmonia traz-me a brisa!
Que música
suave ao longe soa!
Meu Deus!
como é sublime um canto ardente
Pelas vagas
sem fim boiando à toa!
Homens do
mar! ó rudes marinheiros,
Tostados pelo
sol dos quatro mundos!
Crianças que
a procela acalentara
No berço
destes pélagos profundos!
Esperai!
esperai! deixai que eu beba
Esta
selvagem, livre poesia
Orquestra — é
o mar, que ruge pela proa,
E o vento,
que nas cordas assobia...
..........................................................
Por que foges
assim, barco ligeiro?
Por que foges
do pávido poeta?
Oh! quem me
dera acompanhar-te a esteira
Que semelha
no mar — doudo cometa!
Albatroz! Albatroz! águia do oceano,
Tu que dormes
das nuvens entre as gazas,
Sacode as
penas, Leviathan do espaço,
Albatroz! Albatroz! dá-me estas asas.
II
Que importa
do nauta o berço,
Donde é
filho, qual seu lar?
Ama a
cadência do verso
Que lhe
ensina o velho mar!
Cantai! que a
morte é divina!
Resvala o
brigue à bolina
Como golfinho
veloz.
Presa ao
mastro da mezena
Saudosa
bandeira acena
As vagas que
deixa após.
Do Espanhol
as cantilenas
Requebradas
de langor,
Lembram as
moças morenas,
As andaluzas
em flor!
Da Itália o
filho indolente
Canta Veneza
dormente,
— Terra de
amor e traição,
Ou do golfo
no regaço
Relembra os
versos de Tasso,
Junto às
lavas do vulcão!
O Inglês —
marinheiro frio,
Que ao nascer
no mar se achou,
(Porque a
Inglaterra é um navio,
Que Deus na
Mancha ancorou),
Rijo entoa
pátrias glórias,
Lembrando,
orgulhoso, histórias
De Nelson e
de Aboukir.. .
O Francês —
predestinado —
Canta os
louros do passado
E os
loureiros do porvir!
Os
marinheiros Helenos,
Que a vaga
jônia criou,
Belos piratas
morenos
Do mar que
Ulisses cortou,
Homens que
Fídias talhara,
Vão cantando
em noite clara
Versos que
Homero gemeu ...
Nautas de
todas as plagas,
Vós sabeis
achar nas vagas
As melodias
do céu! ...
III
Desce do
espaço imenso, ó águia do oceano!
Desce mais
... inda mais... não pode olhar humano
Como o teu
mergulhar no brigue voador!
Mas que vejo
eu aí... Que quadro d'amarguras!
É canto
funeral! ... Que tétricas figuras! ...
Que cena
infame e vil... Meu Deus! Meu Deus! Que horror!
IV
Era um sonho
dantesco... o tombadilho
Que das
luzernas avermelha o brilho.
Em sangue a
se banhar.
Tinir de
ferros... estalar de açoite...
Legiões de
homens negros como a noite,
Horrendos a
dançar...
Negras
mulheres, suspendendo às tetas
Magras crianças,
cujas bocas pretas
Rega o sangue
das mães:
Outras moças,
mas nuas e espantadas,
No turbilhão
de espectros arrastadas,
Em ânsia e
mágoa vãs!
E ri-se a
orquestra irônica, estridente...
E da ronda
fantástica a serpente
Faz doudas
espirais ...
Se o velho
arqueja, se no chão resvala,
Ouvem-se
gritos... o chicote estala.
E voam mais e
mais...
Presa nos
elos de uma só cadeia,
A multidão
faminta cambaleia,
E chora e
dança ali!
Um de raiva
delira, outro enlouquece,
Outro, que
martírios embrutece,
Cantando,
geme e ri!
No entanto o
capitão manda a manobra,
E após
fitando o céu que se desdobra,
Tão puro
sobre o mar,
Diz do fumo
entre os densos nevoeiros:
"Vibrai
rijo o chicote, marinheiros!
Fazei-os mais
dançar!..."
E ri-se a
orquestra irônica, estridente. . .
E da ronda
fantástica a serpente
Faz doudas
espirais...
Qual um sonho
dantesco as sombras voam!...
Gritos, ais,
maldições, preces ressoam!
E ri-se
Satanás!...
V
Senhor Deus
dos desgraçados!
Dizei-me vós,
Senhor Deus!
Se é
loucura... se é verdade
Tanto horror
perante os céus?!
Ó mar, por
que não apagas
Co'a esponja
de tuas vagas
De teu manto
este borrão?...
Astros!
noites! tempestades!
Rolai das
imensidades!
Varrei os
mares, tufão!
Quem são
estes desgraçados
Que não
encontram em vós
Mais que o
rir calmo da turba
Que excita a
fúria do algoz?
Quem
são? Se a estrela se cala,
Se a vaga à
pressa resvala
Como um
cúmplice fugaz,
Perante a
noite confusa...
Dize-o tu,
severa Musa,
Musa
libérrima, audaz!...
São os filhos
do deserto,
Onde a terra
esposa a luz.
Onde vive em
campo aberto
A tribo dos
homens nus...
São os
guerreiros ousados
Que com os
tigres mosqueados
Combatem na
solidão.
Ontem simples,
fortes, bravos.
Hoje míseros
escravos,
Sem luz, sem
ar, sem razão. . .
São mulheres
desgraçadas,
Como Agar o
foi também.
Que sedentas,
alquebradas,
De longe...
bem longe vêm...
Trazendo com
tíbios passos,
Filhos e
algemas nos braços,
N'alma —
lágrimas e fel...
Como Agar
sofrendo tanto,
Que nem o
leite de pranto
Têm que dar
para Ismael.
Lá nas areias
infindas,
Das palmeiras
no país,
Nasceram
crianças lindas,
Viveram moças
gentis...
Passa um dia
a caravana,
Quando a
virgem na cabana
Cisma da
noite nos véus ...
... Adeus, ó
choça do monte,
... Adeus,
palmeiras da fonte!...
... Adeus,
amores... adeus!...
Depois, o
areal extenso...
Depois, o
oceano de pó.
Depois no
horizonte imenso
Desertos...
desertos só...
E a fome, o
cansaço, a sede...
Ai! quanto
infeliz que cede,
E cai p'ra
não mais s'erguer!...
Vaga um lugar
na cadeia,
Mas o chacal
sobre a areia
Acha um corpo
que roer.
Ontem a Serra
Leoa,
A guerra, a
caça ao leão,
O sono
dormido à toa
Sob as tendas
d'amplidão!
Hoje... o
porão negro, fundo,
Infecto,
apertado, imundo,
Tendo a peste
por jaguar...
E o sono
sempre cortado
Pelo arranco
de um finado,
E o baque de
um corpo ao mar...
Ontem plena
liberdade,
A vontade por
poder...
Hoje...
cúm'lo de maldade,
Nem são
livres p'ra morrer. .
Prende-os a
mesma corrente
— Férrea,
lúgubre serpente —
Nas roscas da
escravidão.
E assim
zombando da morte,
Dança a
lúgubre coorte
Ao som do
açoute... Irrisão!...
Senhor Deus
dos desgraçados!
Dizei-me vós,
Senhor Deus,
Se eu
deliro... ou se é verdade
Tanto horror
perante os céus?!...
Ó mar, por
que não apagas
Co'a esponja
de tuas vagas
Do teu manto
este borrão?
Astros!
noites! tempestades!
Rolai das
imensidades!
Varrei os
mares, tufão! ...
VI
Existe um
povo que a bandeira empresta
P'ra cobrir
tanta infâmia e cobardia!...
E deixa-a
transformar-se nessa festa
Em manto
impuro de bacante fria!...
Meu Deus! meu
Deus! mas que bandeira é esta,
Que impudente
na gávea tripudia?
Silêncio. Musa... chora, e chora tanto
Que o
pavilhão se lave no teu pranto! ...
Auriverde
pendão de minha terra,
Que a brisa
do Brasil beija e balança,
Estandarte
que a luz do sol encerra
E as
promessas divinas da esperança...
Tu que, da
liberdade após a guerra,
Foste
hasteado dos heróis na lança
Antes te
houvessem roto na batalha,
Que servires
a um povo de mortalha!...
Fatalidade
atroz que a mente esmaga!
Extingue
nesta hora o brigue imundo
O trilho que
Colombo abriu nas vagas,
Como um íris
no pélago profundo!
Mas é infâmia
demais! ... Da etérea plaga
Levantai-vos,
heróis do Novo Mundo!
Andrada!
arranca esse pendão dos ares!
Colombo!
fecha a porta dos teus mares!