Antes
de tudo, João Cabral de Melo Neto não retrata nada menos
que uma crua, monocromática e sintetizada consequência da situação do
sertanejo, não muito diferente da condizente com os dias atuais, ainda que
passado considerável quantidade de tempo. Sua narrativa poética não ludifica a
história a ponto de ofuscar seu verdadeiro ideal: expor um estudo da identidade
do nordestino sofrido.
E é
sobre o autoquestionamento da personagem principal, Severino “como tantos
outros”, que toda uma trama de aspectos são postos não só em prol da sua
formação, quanto da afirmação e dialética sobre a mesma, no auge de sua falta.
O que, aliás, se torna a palavra chave para o desenrolar geral dessa
interrogação quanto à descoberta do próprio eu: a falta.
Moradia,
alimentação, educação, oportunidade, garantia de algo mais além da
subsistência: esses e outros pontos formam a gama de fatores que degradam
Severino e tantos outros com os quais conviveu ou que relatara sem dúvida. Vai
além de resumi-los num estereótipo certeiro, subnutrindo sua individualidade a
ponto de torná-los praticamente iguais: Encerra-os nisso. Fato comprovado em
todo o seu êxodo em busca da firmação de uma vida melhor, diferenciada do que
já lhe era quase predestinado, mais “defendendo a vida que a vivendo”, por
assim dizer.
No âmago dessa identidade compartilhada por
tantos outros encontrados em casos semelhantes, assinala-se a raiz de todo o
questionamento propriamente dito: Até onde se pode estar livre para ser, ao
invés de apenas sobreviver? Quando ele é mais que o eco simples de tantos outros
peregrinos que se findam com os mesmos propósitos, morrendo e vivendo por eles
sem o mínimo de singularidade a que se agarrar para, se não poder achar uma
nova solução, ao menos para se ocupar na descoberta de suas unas
personalidades?
Sob a
constante sombra da morte iminente, na maior parte da obra retratada em todos
os cenários, da caatinga ao recife, logo, priorizar a luta pela própria vida, e
quem sabe depois uma melhoria dela ainda que por parte utópica, compõe os
nordestinos de Cabral com uma única identidade-mor: Sobreviventes.
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