sábado, 4 de maio de 2013

MORTE E VIDA SEVERINA UMA ANÁLISE DA IDENTIDADE


Antes de tudo, João Cabral de Melo Neto não retrata nada menos que uma crua, monocromática e sintetizada consequência da situação do sertanejo, não muito diferente da condizente com os dias atuais, ainda que passado considerável quantidade de tempo. Sua narrativa poética não ludifica a história a ponto de ofuscar seu verdadeiro ideal: expor um estudo da identidade do nordestino sofrido.
E é sobre o autoquestionamento da personagem principal, Severino “como tantos outros”, que toda uma trama de aspectos são postos não só em prol da sua formação, quanto da afirmação e dialética sobre a mesma, no auge de sua falta. O que, aliás, se torna a palavra chave para o desenrolar geral dessa interrogação quanto à descoberta do próprio eu: a falta.
Moradia, alimentação, educação, oportunidade, garantia de algo mais além da subsistência: esses e outros pontos formam a gama de fatores que degradam Severino e tantos outros com os quais conviveu ou que relatara sem dúvida. Vai além de resumi-los num estereótipo certeiro, subnutrindo sua individualidade a ponto de torná-los praticamente iguais: Encerra-os nisso. Fato comprovado em todo o seu êxodo em busca da firmação de uma vida melhor, diferenciada do que já lhe era quase predestinado, mais “defendendo a vida que a vivendo”, por assim dizer.
     No âmago dessa identidade compartilhada por tantos outros encontrados em casos semelhantes, assinala-se a raiz de todo o questionamento propriamente dito: Até onde se pode estar livre para ser, ao invés de apenas sobreviver? Quando ele é mais que o eco simples de tantos outros peregrinos que se findam com os mesmos propósitos, morrendo e vivendo por eles sem o mínimo de singularidade a que se agarrar para, se não poder achar uma nova solução, ao menos para se ocupar na descoberta de suas unas personalidades?
Sob a constante sombra da morte iminente, na maior parte da obra retratada em todos os cenários, da caatinga ao recife, logo, priorizar a luta pela própria vida, e quem sabe depois uma melhoria dela ainda que por parte utópica, compõe os nordestinos de Cabral com uma única identidade-mor: Sobreviventes.

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