quinta-feira, 7 de junho de 2012

Fuga da literatura;;;;;;NÃO É POR ACASO!!!!!


    Oi....pessoal. fugindo um pouco da literatura vejam essa critica que fiz ao sistema de cotas no site: http://debecaetoga.blogspot.com.br/2012/04/sistema-de-cotas-raciais-em.html?showComment=1339099976973




     Dra. Valéria, essa suposta "dívida" inclui alunos brancos pobres que estudaram em escolas públicas ou escola particular com bolsa de estudos, TENHO VERGONHA DE SER BRASILEIRO. Em assistir essas e outras desigualdades, pelo fato de alguns que ao invés de banir a segregação, a estimula, e o que é pior da guarida ao ódio racial contra as minorias. Não existe e nunca existirá igualdade racial, neste ato do STF. Afirmo com base no Art. 5º da constituição federal de 1988. O ACESSO à educação é DEVER do Estado e não privilégio de alguns. Acreditar que a dívida social, a que vós referis, será paga à custa da exclusão racial e econômica é algo obsceno e utópico. "se alguém é a favor do sistema de cotas, esse é a favor de uma universidade só para negros e nenhuma para brancos". Anseio sinceramente que os Ministros do STF respeitem a população, e criem mecanismos para coibir o racismo, contudo não o promovam. E que um dia negros e brancos possam disputar as vagas do vestibular, (em pé de igualdade) sem favoritismo. Estou aberto a discussões, porém com embasamentos.  




J.


Aliás, quem pode afirmar que é  “negro”  neste País, se o brasileiro é originário de uma mistura de raças e culturas. Todavia a capacidade intelectual é orçada, através da cor da pele. (interr.)

A guerra da donzela - Nilto Maciel



A guerra da donzela




Entrevista concedida por Nilto Maciel a Jonathan Ferreira, aluno da disciplina Literatura Cearense do curso de Letras da Universidade Estadual do Ceará



1. Em que se baseia o enredo, existe algum contraste com a vida real?

Resposta (R) – O enredo de A guerra da donzela se baseia em outros enredos: de romances antigos, de histórias ouvidas, contos de fada, fuxicos, mentiras. Na verdade, minha intenção era escrever um longo romance que contasse histórias muito velhas (anteriores ao descobrimento do Brasil) até minha juventude, uma cadeia de histórias familiares, domésticas, de personagens inventados, mas que representassem o povo do Ceará.



2. Os personagens Francisco Sombra e Antônio foram retirados de que contexto?

R – Quando menino, eu olhava e ouvia as pessoas na rua, dentro de minha casa, nas igrejas, e imaginava outras. Depois passei a ler romances: José de Alencar, Eça de Queirós, Camilo Castelo Branco, etc. Dessa mistura, nasceram meus personagens.



3. Comente sobre a figura do Padre na novela?

R – Gosto muito de fazer caricatura de pessoas ou personagens. Para mim, as pessoas não são exatamente como se veem ou se mostram. São mais ridículas. Quando menino, eu via padres de muito de perto. Trabalhei com alguns deles, como ajudante de missa.



4. Qual assunto principal da novela o senhor acha marcante?

R – Acho que a história trata de repressão sexual e outras repressões. Aquela vidinha no interior no início do século XX. Tudo imaginado, porque não vivi isso. Mas sei das repressões pela Igreja, pela família, pela moral, pelos costumes, pela tradição. Tudo isso que é abominável e muita gente acha que era lindo, maravilhoso.



5. Qual característica regional o senhor acredita ser mais marcante? Pode citar alguma?

R – A linguagem que conheci (de ouvir) eu tento reproduzir no romance. Os personagens também são muito locais. A paisagem de Palma é a de Baturité, recriada. O tema da repressão é também regional.



6. Quem representa Mirtes no primeiro capítulo: a mulher violada; desonrada, repudiada? Cite exemplos. Que comparação o senhor faz com a vida real?

R – Mirtes é uma das vítimas da repressão sexual. A mulher não tinha direito a nada, a não ser a ser capturada como presa, raptada, violada. E, se não se casasse, estaria perdida até a morte. Viraria prostituta (rapariga, quenga, mulher da vida, etc). Isso era a realidade. Embora meu romance não seja reportagem e, muito menos, “baseado em fatos reais”, na essência, é baseado na vida real e, por isso, realista. Mesmo quando aparecem animais enormes, ainda assim tudo é real. Porque a distorção da realidade pelos personagens é fruto da própria repressão.





7. Qual o público alvo do seu livro?

R – Nunca escrevo pensando em leitor hipotético ou ideal. Escrevo pensando nos personagens, como se eles vivessem de verdade. Eu quero contar a história deles para mim e para quem quiser ler. Sei que escrevo para o futuro, não para hoje ou amanhã. Desculpem a imodéstia. Se não quiserem ler o que escrevi, nem lamentar poderei, porque estarei morto.



8. A que se deve a busca incansável da donzela?

R – Acho que é do ser humano buscar o que e quem se perdeu, o que se extraviou.
A busca incansável é a própria trama da novela. Buscar a donzela perdida (ou raptada) seria uma forma de provar que tudo era real. Porém, ninguém sabe (nem eu) se aconteceu mesmo o rapto da donzela. Pode ter sido apenas um boato. Só para constituir uma história. Disso é feita a literatura.



Fortaleza, 11 de maio de 2012.

terça-feira, 20 de março de 2012

O crime do Padre Amaro - síntese da obra de Eça de Queiroz


          Nesse romance, de sua fase mais influenciada pelo naturalismo, Eça de Queirós
ataca a corrupção do clero e a hipocrisia da média burguesia portuguesa, questionando seus valores morais


Publicado pela primeira vez em 1875,

O Crime do Padre Amaro denuncia a corrupção dos padres, que manipulam a população em favor da elite, e a questão do celibato clerical. É com esse livro que Eça de Queirós inaugura, na prosa, a estética do realismonaturalismo em Portugal. A obra caracteriza-se pelo combate ao idealismo romântico que se estabelecia até então, em prol de uma visão mais crítica da sociedade. Sua versão
definitiva foi publicada em 1880.


ROMANCE DE TESE


O Crime do Padre Amaro

é o primeiro romance de Eça. Em vez da subjetividade


romântica, os autores do realismo-naturalismo, como o próprio nome da escola literária

indica, buscavam retratar a realidade de forma objetiva.

Naquela época (segunda metade do século XIX), o Ocidente vivia um período de

grandes transformações, com a Segunda Revolução Industrial. O cientificismo passou a

predominar, com novas correntes filosóficas e teorias, entre as quais o positivismo de

Comte, o determinismo de Taine, o evolucionismo de Darwin e o socialismo científico

de Marx e Engels. Essa perspectiva racionalista e materialista leva os intelectuais a

estudar o impacto social da industrialização e do liberalismo.

Passam a ser discutidas as desigualdades que essas mudanças trouxeram para a

sociedade, como o surgimento de uma nova classe que é oprimida pela burguesia: o

proletariado.

Daí a substituição do romance de entretenimento pelo romance de tese, que visa a

descrever e a explicar os problemas sociais sob a luz das novas idéias. Neles há a crítica,

muitas vezes feroz, às instituições que servem de base para a sociedade burguesa, como

o Estado, a Igreja e a família.

Portugal, que muito tempo antes havia deixado de acompanhar o progresso de outras

nações européias, passa nesse momento a servir de palco para a mobilização de jovens

que ansiavam por mudanças radicais. É nesse contexto que Eça de Queirós começa a se

destacar. Em sua fase realista-naturalista, inspirado pelos franceses Gustave Flaubert e

Émile Zola, escreve romances como

O Crime do Padre Amaro e O Primo Basílio, que


buscam atacar a corrupção do clero e a hipocrisia da média burguesia portuguesa.


NARRADOR


A narrativa é em terceira pessoa e o narrador tem onisciência, ou seja, conta a história

com conhecimento dos pensamentos e das ações dos personagens. Isso facilita o

processo de distanciamento entre o autor e a obra. Apesar disso, é possível perceber a

antipatia que Eça sente por vários dos tipos retratados, em especial os padres e as


beatas, por causa da ironia e dos adjetivos rudes, muitas vezes grosseiros, que utiliza em

suas descrições. Isso é revelador de uma postura anticlerical, comum entre os escritores

realistas.


TEMPO E ESPAÇO


A maior parte da narrativa concentra-se em uma província chamada Leiria, sede do

bispado para onde o padre Amaro consegue transferência. O tempo compreende os anos

de 1860 a 1870, aproximadamente, e se desenvolve de forma cronológica, linear, com

eventuais voltas ao passado, quando o autor, após apresentar alguns dos personagens,

conta a história de Amaro e de como ele se tornou padre.


ENREDO


Após perder os pais, que serviram à marquesa de Alegros, Amaro cai nas graças da

mulher, que o toma como agregado, planejando criá-lo para o sacerdócio. Isso acaba se

efetivando, apesar da ausência de vocação e de interesse do jovem, que, desde cedo,

possuía uma índole libidinosa. Triste e resignado, Amaro se ordena padre, sempre

tentando conter os fortes impulsos sexuais que sente.

Embora temesse a Deus e fosse devoto, odeia a vida eclesiástica que lhe fora imposta.

Depois de exercer seu ofício em uma província interiorana, consegue, por influência da

condessa de Ribamar – filha de sua protetora, a marquesa –, mudar-se para Leiria.

Nesse ponto, Eça descreve como os interesses do clero estão atrelados aos interesses

políticos. É o marido da condessa quem intervém junto a um ministro para solicitar ao

bispo a transferência de Amaro, apesar de sua pouca idade, para a sede do bispado.

Em Leiria, o jovem padre aceita a sugestão do cônego Dias para morar em um quarto

alugado na casa da senhora Joaneira – com quem Dias mantinha um caso –, auxiliando,

em troca, nas despesas da casa. O quarto de Amaro fica exatamente embaixo do de

Amélia, filha da dona da casa. Já no primeiro contato, Amaro e Amélia sentem forte

atração mútua, que se desenvolve aos poucos e provoca o desinteresse da moça por João

Eduardo, de quem era noiva.

O fato que desencadeia a ofensiva de Amaro sobre Amélia é algo que o jovem padre

presencia: certo dia, ao chegar à residência da senhora Joaneira, encontra-a na cama

com o cônego Dias. A partir daí, apesar de ter mudado de casa, Amaro vai perdendo os

escrúpulos e se deixa levar pela atração sexual, seguindo o exemplo de seu antigo

mestre.

O autor, além da crítica feroz que desfere contra o clero, toca também em outro tabu da

época: a sexualidade.

É comum que os escritores vinculados à corrente naturalista, como era Eça na época em

que escreveu esse romance, dêem ênfase ao erotismo que domina os personagens. Isso

faz parte de sua caracterização, como apregoa o determinismo de Taine, segundo o qual

os seres humanos são submetidos ao condicionamento pela herança, pelo meio social e

pelo contexto histórico, que regem seu comportamento. Isso significa que, embora os

personagens tentem, num primeiro momento, se prender a um padrão moral mediado


pela consciência, acabam agindo pelos impulsos naturais de sobrevivência da espécie,

principalmente o desejo sexual.

João Eduardo, enciumado, publica anonimamente no jornal local um artigo em que

denuncia a imoralidade de alguns padres de Leiria, especialmente de Amaro. Esse fica

indignado e passa a evitar Amélia — pensa até mesmo em abandonar o sacerdócio. No

entanto, os padres descobrem o autor do texto polêmico e levam João Eduardo a deixar

a cidade.


GRAVIDEZ E MORTE


É nesse momento que, no auge do desejo, Amaro e Amélia trocam o primeiro beijo.

Para facilitar a sedução, Amaro se torna o confessor de Amélia, o que revolta João

Eduardo, levando-o a dar um soco no pároco na rua. Após retirar a queixa contra seu

agressor e ser visto como um santo pelas beatas (entre as quais Amélia), Amaro conduz

a jovem para seu quarto e os dois têm a primeira relação sexual.

A nova criada do padre, Dionísia, alerta para o perigo dessa exposição e lhe recomenda

que ache um local secreto para os encontros amorosos. A solução é a casa do sineiro da

igreja, o Tio Esguelhas, deficiente que vive com uma filha, Antônia, a Totó. A desculpa

para os encontros é a preparação de Amélia para se tornar freira e também ler textos

religiosos a Totó.

O fascínio que Amaro exerce sobre Amélia é cada vez maior, até que ela começa a ter

crises de consciência. A pedido da senhora Joaneira, o cônego Dias investiga o caso e

fica sabendo, por meio de Totó, o que ocorria entre seu pupilo e a moça. Após uma

discussão e trocas de acusações entre os dois, porém, o cônego e o padre passam a se

tratar como sogro e genro.

Amélia então engravida, o que leva Amaro ao desespero. Com o cônego Dias, decidem

casá-la com João Eduardo quanto antes. Ela se revolta com a idéia, mas acaba

aceitando, o que faz com que o padre amante sinta ciúme. Para consolá-lo, decidem,

então, continuar os encontros amorosos após o casamento.

O ex-noivo de Amélia, contudo, não é encontrado, o que os leva a buscar outra solução,

já que fica cada vez mais difícil ocultar a gravidez. A histeria da moça aumenta, até que

optam por enviá-la ao subúrbio para cuidar de dona Josefa, beata enferma irmã do

cônego, enquanto os outros passam uma temporada na praia.

Entristecida por se separar da mãe e pelo abandono de Amaro, que permanece em

Leiria, Amélia fica angustiada e entra em profunda crise. A situação é agravada pela

censura de dona Josefa. A jovem encontra consolo então no bom abade Ferrão, um dos

poucos personagens apresentados como íntegros na narrativa. Ele ouve a confissão de

Amélia e a aconselha a superar a atração que ainda sente pelo padre. Amaro, ao saber

disso, cego de desejo e ciúme, procura mais uma vez Amélia, que não resiste e se

entrega novamente. O abade, por outro lado, tenta inutilmente unir a moça com o

reaparecido João Eduardo, ainda apaixonado por ela.

O momento do parto se aproxima, e Amaro é aconselhado por Dionísia a enviar o bebê

a uma “tecedeira de anjos”, mulher que mata recém-nascidos indesejados. Nasce a

criança, que o pai leva à ama encarregada de fazer com que desapareça, em troca de

pagamento.

Amélia não resiste e, pouco tempo depois, sofre de convulsões e morre. Amaro, triste

por causa da morte da amante, tenta recuperar o filho, mas é tarde. A criança já havia

sido morta. Traumatizado, ele sai de Leiria e é transferido. Em Lisboa, buscando de

novo a ajuda do conde de Ribamar, reencontra o cônego Dias. Ambos concluem que o

remorso sentido pelo caso havia sido superado. Afinal, “tudo passa”.